Tempo

Relendo as minhas

Entrelinhas

Descubro 

A beira do deixar

Do não se envolver

Do abrir mão do outro

Pra olhar pra si

E em si ver um mundo

De cuidados a tomar

Um mundo a entender 

E cuidar

Um tanto de eus

Mal arrumados 

Jogados na vida

E quanto menos amo 

a mim

Amo o outro.

Pião

Pião

Irmão

Roda, gira

Dribla com a canção

Canta, ginga

É suor, razão

Um, dois, três dias

De uma vez só

Suor

Escorre, molha o dia

A noite

Leva o pão pra casa

O leite da cria

O pião para a brincadeira

Do amanhã.

Eu não vou te esquecer

É sobre o agora

E todo momento vivido

É sobre a risada larga

A disposição e a 

Mão estendida

É sobre viver escondida

Pelo outro, pelos seus,

Por amor

Alisada, escovada,

Enquadrada

Você achava que o seu tempo 

Era o tempo de todos

Deixou pra viver no depois

E o depois não veio 

O antes tá indo embora

Mas você está aqui

Boa, cheia de manias

Esquecendo do agora

Do antes, dos minutos

Mas Eu 

não vou te esquecer.

Em silêncio

Quando o mundo parece gritar

me calo

ouço seu grito, sinto e sigo

é muito para mim, 

parece loucura

tortura

deixo as opiniões 

versões, inversões

e sigo calada

a lada

sem lado algum

comum 

ser boa é entender

principalmente 

o momento de parar

de quietar

de calar

e seguir

sem fingir

sem tantos sims.

Identidade

Chão de barro batido
tapete por cima
2 vãos construídos
e muito amor

Sala era quarto
quarto era quarto
banheiro era fora
de casa

Beço de madeira
cama segurada no bloco
camisas surradas
leite, carinho
e muito amor

Depois luta
organização,
porquinhos,
blocos, cimento
e mais alguns vãos

E entre dias, anos
renovação, conquistas
laje, cabou pingueira
quartos, camas

Muito amor, calor
colo, choros,
vitórias, conquistas
muito amor, cuidado

Aquele nós por nós
para sempre!

Para as entrelinhas

Não tem mão,
nem abraço,
nem nada que irá mudar
só você e ninguém mais
e nunca foi tão estranho
depender só de si

Não tem outro
para culpar
para dizer o que
ou não fazer
não tem o outro

Cade você nisso tudo?
Não se encontrou,  não é?
E depois o que poderá vir
se não se encontrou aqui,
imagina lá

Se resolve antes de seguir
ou nem da o segundo passo

a vida pede mais de você
será que tem mais a dá?

A vida pede mais das suas escolhas
versos, estrofes, da sua poesia
da sua sintonia
a vida, as linhas
o outro dia.

Dura

Além de dura, fria

De poucas palavras

E muitas pancadas

Encruzilhadas

Errantes

Atravesso um

Tanto boa

No vale do ruim

Me reinvento

Choro

Ouço música

O dia dorme e acorda

E a vida continua

Dando surras 

Em mim

Em ti

Nos meus

Com homens de bem

No pódio

Na frente da linha

Mantendo a nossa

Distância 

Do oásis 

vida normal.

Início de frase

Seu beijo é a letra maiúscula

Que inicia a frase

O começo da sentença

Onde tudo começa

Depois desce mãos

Carinho, beijos

Seios, arrepio

Meu frio assobio

Mãos, bocas, vontades

Suor, risos, choro

Gozo e fantasia

Língua, vibração

Meu corpo, sua boca

Sou refém do prazer

Da letra inicial

Do suspiro

Do escorregar de dedos

Desejos, 

Enquanto piro

E extravaso

Minha poesia liquida

Codinome orgasmo.

Outra noite dessas

Fria

Barulhenta aqui dentro

Silenciosa lá fora

E em passos lentos

Sigo

Me transporto

Sem porte

Nem arma alguma

Vou levando os bocados

E vivendo o fardo

Do isolamento

Só lamento

A dose de Gin 

Não da mais conta

Você tem que se dá conta

Que só existe no fim

Você.

Só

Ser só no meio de uma multidão

Não é exceção

Não é pra poucos

Mas para os solitários

Aqueles alegres

Falantes

Queridos

Amigos

Daqueles que está com você

Que grita, chora, abraça, 

Compra a briga, vai pra mão

Por você

Mas ele

Continua só

Solitário no olhar

No seguir, no confiar

Na música, na poesia

Na dúvida, na entrelinha

Do sorriso de canto

Da gargalhada

E principalmente dos não ditos

É solitário viver num mundo

De tantos outros

Feito para poucos

Onde a risada

É fachada

E as fachadas

São em sua maioria

Falsas.

Encruzilhada

Pá, Pá! Bom dia é dado a mão armada
Nossa vida clivada, nossa voz travada
nosso sangue derramado,
expondo na estatística
o intervalo de 23 minutos
na realidade crua e perversa chamada
Brasil
que de gol em gol
ganha hexa em matar pretos.
E cada dia uma dor,
uma luta,
e mais um punho cerrado,
entre os presentes vivos
e ancestrais, nós.

Leno Sacramento, presente! Vivo!
Junho/2018

Castelo de Areia

Enquanto vida
construímos todos os dias
sem pensar direito nem parar
construímos a via, o caminho
planejamos o continuar
o futuro, o amanhã
sem nem imaginar o quanto
o presente nos reserva
vida guerra
e de luta em luta
caímos de cima
do monte de areia
onde construímos
os nossos castelos.

Qualquer sexta

Enquanto você espera

A vida te olha da janela 

Ri de você

Ri também dela

Sem namorada

Sem beira nem estribeiras

Ela é aquela que te ver nua

Tão nua como ninguém nunca viu

Ela é gentil em não te dizer a verdade

Mas bem lá no fundo ela quer sinceridade

Quer que você também consiga se ver nua

Tão tua que não seja de ninguém

Não seja nem do mundo, nem da rua

Mas seja só sua.

Desmonta

Tira, troca, engaveta

Arruma, embrulha

Encaixota

Não deixa o importante

Fora

Enrola, alinha

Põe na linha

Desmonta e monta

Remonta

Essa desconstrução

É sua

Então fica nua

Troca tudo

De rima a prosa

Seja a senhora

Do seu destino.

Sobre mim

Um tanto de sossego
misturado com a
ansiosa explosiva
que mora dentro de mim
e sem muita explicação
muda todo dia
de cara, sorriso
de alegria, ela é
pura loucura, misturada
a ventania
com um olhar forte
e alegre, mas com
um cansaço de alma
ela é e sempre será
tão amor.

14/12/2019

Intervalo

Na música, na sina, na vida
espaço entre os fazeres
entre melodias
entre o barulho
da mente e do externo
é o sinônimo do silêncio
ou da pausa
é coisa da alma
que de cansada
para
intervala
até sentir
um novo suspiro
respiro até
dentro do intervalo.

04/12/2019

Fico viva ou morro tentando

Tem sido bem lema diário
essa afirmação
e enquanto o viver pode ser
só respirar para alguns
o viver sem prazer é
a tentativa estatica do
significado de vida.

Parece loucura, mas é real
enquanto uns seguem tentando
se jogando no mapa sem se encontrar
outros seguem na busca incessante
de se amar ou se entender
sei lá.

As vezes sufoca
e a vida que antes era prosa
vira mar revolto
onde tudo parece fantasmagórico
outro rumo, outra espreita,
outra dolorosa lembrança
do tempo que não volta mais.